Entenda mais
Saúde Sexual
A medicina sexual, com foco principal no diagnóstico de disfunções
A medicina sexual é uma área de conhecimento médico que estuda os diversos aspectos da vida sexual do ser humano, com foco principal no diagnóstico de disfunções, seu tratamento e sua prevenção. De maneira mais ampla, o conceito de Saúde Sexual soma ao campo a contribuição de outras áreas de conhecimento, fortalecendo aspectos de educação sexual, promoção de uma vida sexual segura e prazerosa e ampliando as formas e recursos para um diagnóstico e tratamento bem-sucedido de suas disfunções.
A Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual (ABEMSS) é uma associação interdisciplinar com a missão de promover discussão e estudos neste campo, permitindo o intercâmbio e atualização de profissionais da área dentro do que há de mais atual e reconhecido internacionalmente, com o rigor técnico e ético que acreditamos ser necessários dentro deste campo tão desafiador.
A medicina sexual, com foco principal no diagnóstico de disfunções
A medicina sexual é uma área de conhecimento médico que estuda os diversos aspectos da vida sexual do ser humano, com foco principal no diagnóstico de disfunções, seu tratamento e sua prevenção. De maneira mais ampla, o conceito de Saúde Sexual soma ao campo a contribuição de outras áreas de conhecimento, fortalecendo aspectos de educação sexual, promoção de uma vida sexual segura e prazerosa e ampliando as formas e recursos para um diagnóstico e tratamento bem-sucedido de suas disfunções.
A Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual (ABEMSS) é uma associação interdisciplinar com a missão de promover discussão e estudos neste campo, permitindo o intercâmbio e atualização de profissionais da área dentro do que há de mais atual e reconhecido internacionalmente, com o rigor técnico e ético que acreditamos ser necessários dentro deste campo tão desafiador.
Perguntas e respostas frequentes
Disfunção sexual masculina
Muitos são educados sob a concepção de que o homem deve sempre estar pronto para uma relação, não importando a hora nem o lugar. E perder a ereção pode é um atestado de falha. A consequência desse processo vem através do sentimento de ansiedade, medo e perda da autoconfiança para os próximos encontros com a parceria.
Numa eventual falha ou perda de ereção são fundamentais o relaxamento e a concentração na sexualidade da parceria como seu corpo, posição sexual e fantasias. A ênfase nas preliminares e na troca de carícias vão ajudar a diminuir a ansiedade e tensão.
Um boa noite de sexo traz benefícios além do que se imagina. Além do prazer e do relaxamento físico, a prática constante do sexo pode:
- Combater o estresse;
- Aumentar a imunidade;
- Melhorar a circulação sanguínea;
- Regular a produção hormonal;
- Evitar doenças de origem física ou emocional.
Os efeitos começam logo nas preliminares: assim que o estímulo sexual chega ao cérebro é desencadeada uma sequência de reações químicas que fazem com que o coração bata mais rápido e o sangue circule por todo o organismo. Até a dor de cabeça, uma das principais desculpas para se evitar o sexo, pode ser curada.
Durante a excitação e o orgasmo, o cérebro é inundado pela endorfina, substância cujo efeito analgésico e tranquilizante pode fazer a dores desaparecerem.
A excitação e a qualidade da ereção dependem de muitas dimensões, tanto físicas como mentais. Conseguir uma boa ereção depende de:
- Estado de excitação no momento da relação sexual;
- Grau de relaxamento, isto é, estado de tensão emocional;
- Nível de ansiedade pela expectativa pelo desempenho sexual;
- Disposição física do dia;
- Entrosamento do casal;
- Qualidade e quantidade de carícias proporcionada pela parceria.
A outra parte envolvida tem sim um papel fundamental para reverter esse quadro. Perder a ereção deve ser sinônimo de inferioridade do homem. Relaxamento, tempo e estimulação sensorial podem ajudar a contornar o problema e retomar o sexo.
Caso o problema se torne recorrente e pior, a parceria deve apoiar e incentivar o homem a procurar um profissional habilitado em saúde sexual. Há situações em que só em desabafar com o profissional que tem sensibilidade, conhecimento pode ser de grande valia. A simples noção de segurança de que esta situação pode ser tratável e reversível já colabora para uma melhora do quadro.
A saúde sexual é um ramo de estudo multiprofissional com foco na sexualidade humana e suas desordens relacionadas.
A saúde sexual abrange a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e reabilitação de condições ou doenças que envolvam a função sexual, sejam elas físicas, psicológicas, sociais ou um conjunto delas. E por tratar de um tema multidimensional, a saúde sexual envolve profissionais de saúde de diversas áreas, tais como:
- Psicólogos;
- Médicos;
- Fisioterapeutas.
Todos eles vão abordar conjuntamente experiências e comportamentos sexuais do homem e da parceria, identidade sexual, traumas, experiências sexuais e suas repercussões. É fundamental relevar as dimensões individuais e do casal por meio de conhecimento e aplicação de métodos médicos, psicológicos, fisioterápicos e de ciência social.
A ansiedade, tão comum na sociedade atual, interfere não só na função sexual, mas na qualidade de vida como um todo. Disfunção erétil e queda de libido em adultos jovens têm a ansiedade e outros distúrbios psicológicos como fator causal chave. O temor e a ansiedade do insucesso ou fracasso sexual são responsáveis pelas falhas na cama, caracterizando a chamada ansiedade de desempenho. É fundamental que esse foco de ansiedade seja identificado e tratado.
Os fatores estressantes podem estar relacionados a conflitos pessoais, conjugais ou sociais, como problemas de ordem profissional, financeiros, afastamento do casal e distúrbios tais como o alcoolismo, doenças cardiovasculares, diabetes e doenças da próstata.
A falta de uma boa conversa, o isolamento, a vergonha de falar dos problemas sexuais, constituem nas maiores barreiras que levam a frustração e a infelicidade na vida a dois.
Observa-se na sociedade atual uma crescente busca do medicamento para emagrecer, da pílula para relaxar e dormir bem, do composto comprado para ganhar vitalidade e bem-estar. Resumindo, uma procura pela terceirização da resolução dos nossos problemas. Só que na maioria das vezes as curas não estão no balcão da farmácia, mas no esforço e dedicação pessoal para melhorar os hábitos e dinâmica de vida. Um diálogo franco ainda é um grande remédio. Mas requere esforço, dedicação e abertura do casal.
O apoio e a solidariedade mútuos estimulam e encorajam a superar as dificuldades em todos os setores da vida, inclusive o sexual. Contudo nem sempre esse problema é capaz de ser solucionado sozinho ou a dois. Cabe então buscar o apoio de um profissional capacitado e especializado em saúde sexual para auxiliar.
A parceria exerce papel central frente ao homem com dificuldades sexuais. Atualmente quase 40% dos homens que procuram tratamento para disfunção sexual têm apoio e envolvimento da parceira. Problemas sexuais do repercutem na vida afetiva e sexual da parceria, que com o tempo, se mostra indisposta para o sexo ou com dificuldade de atingir o prazer, diferentemente de antes.
Começam a surgir barreiras entre os dois. Os problemas sexuais, quando não resolvidos são fontes de frustrações na vida conjugal e motivo de brigas, afastamento e separações.
Triglicérides e colesterol exercem fundamental ação no nosso organismo. Eles compõem as paredes das nossas células e são matéria prima para fabricação de testosterona, por exemplo. O problema surge com a elevação das gorduras (lipídeos) circulantes, pois elevam o risco de formação de placas ateromatosas que entopem vasos de todo o organismo. E o pênis não fica de fora desse processo, já que a ereção ocorre graças ao aumento da circulação sanguínea para o interior do órgão sexual.
O processo é tão notável na circulação peniana que a disfunção erétil é definida atualmente como um marcador de risco para eventos coronarianos, tais como angina e infarto agudo do miocárdio, já que as artérias penianas, com menor calibre, podem entupir antes das artérias do coração.
A obesidade é sabidamente um fator de risco multifatorial para o surgimento de disfunção erétil. O obeso tem maior risco de desenvolver a disfunção erétil orgânica, pois com frequência apresenta a associação de colesterol elevado, pressão alta e diabetes: todas elas danosas ao ciclo de resposta sexual do homem
.O intercurso sexual não deixa de ser uma atividade física. A obesidade prejudica a performance cardiorrespiratória e a resistência ao esforço, dificultando a dinâmica durante o sexo. Ressalta-se ainda que obesos têm níveis reduzidos de testosterona, sendo essa relação inversamente proporcional ao aumento de peso. A libido pode ser afetada pela queda no hormônio.
A disfunção de ordem psicogênica costuma estar associada, pois a autoestima do obeso é baixa pela sua aparência, limitação física, falta de mobilidade e pela gordura pélvica e abdominal ocultar o tamanho do pênis.
Faz parte do envelhecimento normal a vida sexual presentar mudanças em sua dinâmica. A resposta peniana pode levar mais tempo e necessitar de mais estímulos, sobretudo táteis. Este estágio implica em uma participação mais ativa da parceria nas preliminares. Leva-se um tempo maior para atingir o orgasmo. Já o ejaculado pode sofrer redução da força e do volume, geralmente consequência da elevação do volume da próstata.
O tempo de latência, isto é, o intervalo para conseguir uma nova ereção após a relação fica maior ou não acontece nova ereção. Já as ereções espontâneas noturnas ou matinais também diminuem em intensidade e frequência.
Estas alterações qualitativas da ereção geralmente não se acompanham necessariamente de uma diminuição do desejo sexual. Mas quando a libido, ou desejo sexual diminuem, podem ter como uma das causas a redução dos níveis de testosterona disponíveis.
Todas essas mudanças não devem ser entendidas como sinais para o fim das atividades sexuais. Devem ser encaradas como um processo normal do envelhecimento do homem e aspectos como qualidade e satisfação devem ser priorizados nessa nova fase de vida.
A atividade sexual envolve uma complexa e interligada rede neurológica que abrange:
- Resposta do sistema nervoso central a estímulos visuais, olfativos e auditivos;
- Sensibilidade peniana e corporal (a sexualidade não deve se restringir ao pênis);
- Transmissão dos estímulos pela medula espinal pelas duas vias: ascendente e descente.
Traumas raquimedulares, acidentes vasculares encefálicos (ou AVCs), doenças degenerativas, como esclerose múltipla, doença de Parkinson e outras afetam a capacidade de atingir a ereção e de chegar ao orgasmo. As restrições sensitivas, cognitivas e motoras decorrentes são fatores que se sobrepõem negativamente na função sexual do homem acometido.
A boa saúde sexual é simplesmente um reflexo de uma boa saúde geral. É sabido que isso demanda disciplina e cuidados constantes como:
- Alimentação saudável;
- Sono adequado;
- Prática regular de exercícios físicos;
- Controle do estresse;
- Prevenção de doenças crônicas associadas;
- Evitar tabagismo e etilismo;
- Dedicação para boa relação conjugal;
- Atitude positiva em relação ao sexo.
A sexualidade nos acompanha desde o nosso nascimento e por isso deve ser lidada pelos pais e cuidadores da forma mais natural possível. É importante ressaltar que educação sexual não significa erotizar o tema e induzir a criança a um comportamento não compatível com a idade. E essas informações devem ser transmitidas de acordo com a demanda e solicitação da criança. O conhecimento do corpo não deve omitir aspectos reprodutivos e sexuais, claramente obedecendo a valores educacionais, sociais e familiares.
A educação sexual pode ajudar meninos a identificar e evitar situações de abuso sexual, ao reconhecer, por exemplo, um contato inadequado de um adulto ou criança mais velha em seus genitais.
Disfunção sexual feminina
Após a menopausa, ocorrem muitas mudanças psicológicas e socioculturais que podem alterar toda a dinâmica vivencial do casal, podendo afetar sim a sua vida sexual. Apesar de essas mudanças suplantarem as mudanças biológicas, estas também acontecem e têm um papel muito importante nessa fase.
Dentre essas mudanças biopsicossociais que podem alterar a sexualidade dessa mulher podemos citar: a diminuição da autoestima e autoconfiança pela perda do corpo jovem; a saída dos filhos de casa sentindo a “síndrome do ninho vazio”; a perda da parceria resultando na “síndrome da viuvez” assim como o medo de morrer; o falso mito de ter que se viver uma velhice assexuada; os transtornos de humor que podem surgir nessa idade; as doenças e uso de medicamentos que alteram a sexualidade; e também as disfunções sexuais da parceria.
Além de tudo isso, sabemos que a resposta sexual nessa fase fica um pouco mais lenta, devido à diminuição de desejo, excitação e orgasmo que podem aparecer nessa fase devido à queda dos hormônios que ocorrem após a menopausa. Observamos diminuição de sonhos eróticos e fantasias sexuais, diminuição da lubrificação e expansão vaginal devido à diminuição da produção de hormônios locais e diminuição dos vasos sanguíneos que irrigam o local, assim como diminuição da duração, intensidade e frequência dos orgasmos.
Lembrando que todas essas mudanças são mais evidentes na mulher que já tinha uma baixa ou ausente vida sexual. A constância de atividade sexual retarda esses efeitos do envelhecimento sobre os órgãos genitais e consequentemente a função sexual.
Sabemos que a terapia hormonal assim como a psicoterapia tem uma importância significativa e diminuem muito o impacto da menopausa na função sexual. A avaliação conjunta da parceria também se torna necessária, pois muitas vezes a disfunção sexual é consequência de problemas sexuais destes.
A adolescência se caracteriza por um período de mudanças físicas, biológicas e emocionais com a perda do corpo infantil, crise de identidade, flutuações de humor, tendência a fantasiar, rebeldia, reinvindicação, afastamento dos pais biológicos, tendência grupal, atemporalidade, invencibilidade, além da sexualidade.
As questões de gênero, educacionais, culturais, sociais, religiosas e econômicas vão influenciar as vivências e as situações de risco e vulnerabilidade de homens e mulheres. O corpo é aquilo que temos de mais íntimo, mas também é aquilo que temos de mais público, por ele nos apresentamos somos aceitos ou não.
O desconhecimento sobre o próprio corpo, o desencorajamento ao autoconhecimento, a falta de intimidade ao tocá-lo e percebê-lo, o desconhecimento sobre a resposta sexual humana de homens e mulheres, alterações da saúde biológica, doenças hormonais e psíquicas, uso de medicamentos, abuso físico, violência sexual podem determinar desejo sexual hipoativo, dificuldade de excitação e dor na relação como queixas entre adolescentes.
A abordagem na adolescência deve ser multidisciplinar e incluir o auto cuidado, o conhecimento dos métodos anticoncepcionais, direitos sexuais e reprodutivos, a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e gravidez não programada, além de ser espaço para que ele fale de sua sexualidade em todas as suas dimensões biológica, psíquica e sociocultural. Propiciando que o adolescente se torne ator ativo e evitando que leve para a idade adulta sofrimentos maiores. Uma dificuldade de excitação ou dor na relação na mulher jovem pode levar a desejo hipoativo na mulher adulta.
No escutar, no ouvir e no acolher reforçar a identidade de gênero, a orientação sexual, a solidariedade na diferença e os direitos iguais para ser diferente trilhando um caminho compatível com seus projetos de vida.
A falta ou inibição de desejo na mulher é frequentemente causada por fatores psicoemocionais. As causas psicológicas mais frequentes da queda no desejo sexual feminino são: depressão e ansiedade.
O estado depressivo na mulher gera uma desmotivação e um desprazer significativos diante da vida, o que inclui a perda de motivação e prazer com o sexo. A ansiedade excessiva destas mulheres gera uma insegurança quanto ao desempenho sexual (medo de não chegar ao orgasmo, por exemplo) e atrapalha a qualidade da relação sexual, gerando ainda mais frustração.
Além da depressão e ansiedade, outros fatores psicoemocionais influenciam para a baixa da libido: estresse excessivo frente aos problemas e preocupações que ocorrem fora da cama, baixa autoestima, situações de perdas (de emprego, de ente querido), sobrecarga de tarefas e atividades diárias. A falta de sintonia afetiva e/ou sexual entre o casal também pode ser outro inibidor do desejo feminino.
Identificar estas condições e buscar tratamento adequado são necessários para resgatar a motivação para uma vida sexual saudável e satisfatória.
Essa pergunta inquieta pesquisadores ao redor do mundo há vários anos. A melhor resposta é sim. Os anticoncepcionais hormonais podem afetar a resposta sexual das mulheres (desejo sexual, excitação e orgasmo) de forma variável. Uma pesquisa recente (2020) mostrou diminuição do desejo sexual, ainda permanecendo incerto o mecanismo causador dessa diminuição. Ressecamento vaginal e a sensação de orgasmos menos frequentes e intensos também foram evidenciados.
Alguns estudos destacaram maior satisfação sexual feminina com o uso de anticoncepcionais. A chegada dos anticoncepcionais orais (década de 1960) separou o prazer sexual feminino da reprodução. A maternidade pôde ser uma escolha e as mulheres saíram do espaço doméstico e ganharam o espaço público. A proteção contra uma gravidez indesejada permitiu maior liberdade para as mulheres vivenciarem o prazer, impactando positivamente no desejo sexual.
Uma avaliação médica deverá ser feita considerando todos os fatores que podem determinar problemas sexuais. Ansiedade, depressão, problemas de relacionamento, estresse, fadiga, uso de medicamentos são alguns exemplos de fatores que afetam a resposta sexual. Considerar a mudança do anticoncepcional hormonal pode ser uma alternativa. Outras vezes, trocar por um método contraceptivo não hormonal pode solucionar o problema.
A gravidez é um período de adaptações. As mudanças corporais e fisiológicas podem afetar a autoestima, além da rotina exaustiva de cuidados com o recém-nascido e amamentação. A criança passa a ocupar um espaço que interfere na rotina do casal e, principalmente a mãe, passa por uma transformação muito significativa de seus papeis. No caso de gestações gemelares as dificuldades podem ser exacerbadas. As alterações hormonais causam diminuição da lubrificação, o que pode contribuir para dores no intercurso sexual.
De fato, estudos evidenciam que os casais podem apresentar desejo sexual hipoativo e redução da atividade sexual que varia de acordo com a idade gestacional. No primeiro trimestre há sonolência, náuseas e vômitos mais frequentes e o temor de que a relação pênis-vagina provoque dano ao concepto. No segundo trimestre há uma melhora da função sexual e no terceiro trimestre as dificuldades sexuais se intensificam quando, comumente, a mulher se sente mais cansada devido ao volume abdominal, além dos medos de sangramento e parto prematuro.
As repercussões da gravidez na função sexual podem levar tanto a um aprofundamento da vivência sexual do casal contribuindo para o crescimento pessoal de ambos ou culminar com disfunções na saúde física e psíquica do casal. Sendo assim, é papel do profissional de saúde que presta assistência pré-natal informar às gestantes e suas parcerias sobre as mudanças que podem ocorrer na função sexual nesse período.
Na gravidez, o sexo e a sexualidade se modificam, a atividade sexual pode ser mantida a menos que haja sangramento, ameaça de aborto ou trabalho de parto prematuro. Apesar disto muitas gestantes não pensam e não fazem sexo. Por quê? Em primeiro, há fatores hormonais. Novos hormônios específicos como a gonadotrofina corionica, progesterona e prolactina altas vão modificar a resposta sexual feminina. As mudanças corporais são rápidas, mamas aumentadas e doloridas, vagina mais vascularizada, útero e ventre crescidos modificam a auto imagem.
A prática sexual deve incluir novas posições, apesar da vagina ser democrática e se adaptar ao pênis e ele não machucar o útero ou o bebê, é uma tarefa encontrar uma nova dimensão corporal.
Há novos papeis a serem desempenhados, nasce uma mãe, um pai, um filho e uma família, mas se continuam a ser homem e mulher e a sexualidade faz parte do se sentir humano. O papel da parceria também se modifica. A mulher que está se tornando mãe muitas vezes fica distante do modelo sexual erótico construído.
Redimensionar o prazer é fundamental, pois este não é só genital, penetrativo, uma vez que o corpo tem muitos pontos orgasmicos e orgasmos diferentes. Foco! Sexo precisa ter foco. E ele mudou. Está no filho que virá na gestação e no parto. Crie intimidade, converse, fiquem juntos, troquem carinhos, abraços e beijos. É um ciclo. Se houver vínculo, comunicação e afeto. Tudo vai se reencaixar. Mas se você é das poucas mulheres que se sentem mais estimuladas sexualmente na gestação usufrua disto e exerça este direito com liberdade e autonomia.
A idade da primeira relação sexual interfere na saúde mental e física das adolescentes. As meninas que iniciam relações sexuais com 14 anos ou menos têm mais risco de terem depressão, rebaixamento da autoestima, distorção da autoimagem e arrependimento. Meninas que começam relações sexuais muito cedo tem mais chances de terem grande número de parceiros sexuais ao longo da vida e sexo desprotegido pelo preservativo, o que aumenta o risco para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Dentre essas ISTs está o HPV, que é o vírus responsável pelo câncer de colo do útero. As meninas que iniciam relação sexual muito cedo tem aumento do risco de desenvolver doença precursora do câncer do colo uterino induzido pelo HPV.
Um problema muito sério nas adolescentes com iniciação sexual precoce é o aumento do risco de gravidez não planejada/indesejada, uma vez que o uso de método anticoncepcional seguro é menos frequente entre adolescentes. A gravidez precoce e sem planejamento provoca perda de oportunidades na formação e na vida profissional para a menina e agrega os conhecidos riscos para a mãe, para o feto e para a criança inerentes a uma gravidez nesse periodo crítico da vida da adolescência.
Sendo assim, é recomendável que as meninas não iniciem a vida sexual antes dos 15 ou 16 anos. Nessa idade, as meninas já estão mais maduras e podem escolher ter relação ou não, e escolher a pessoa com quem querem ter sua primeira relação sexual. Vale ainda lembrar que os meninos que começam a vida sexual muito cedo podem ter problemas também. A ejaculação precoce ou perder de ereção podem ocorrer devido a ansiedade no momento da relação sexual. Isso pode deixá-los inseguros quanto ao desempenho sexual e levar a disfunções sexuais recorrentes.
Há importantes evidências de que a violência sexual é um grande problema na vida das mulheres. As sequelas tem alta prevalência e complexidade, sendo amplas e significativas as associações de violência sexual com múltiplos aspectos da sexualidade feminina.
As consequências podem ser graves e de longo prazo, incluindo medo e ansiedade, depressão, dificuldades no funcionamento diário e nos relacionamentos interpessoais, disfunção sexual entre outras. As lesões genitais e infecções sexualmente transmissíveis pós-estupro são mais frequentes e quadros como dispareunia, endometriose, irregularidades menstruais e dor pélvica crônica são mais comuns nessas mulheres em comparação com aquelas não violadas. Mulheres que foram violentadas sexualmente também têm maior chance de se envolver em comportamentos sexuais de alto risco.
Quando a violência sexual aconteceu na infância, o evento passa a ser um dos fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento de disfunção sexual na idade adulta, incluindo problemas com desejo sexual, excitação, orgasmo e dor sexual.
Cirurgia Peniana
A maioria dos homens que buscam pelos procedimentos de aumento peniano é portadora de um pênis normal e não possui anormalidades relacionadas ao tamanho ou ao diâmetro do órgão. Buscar soluções ou procedimentos cirúrgicos “milagrosos” para aumentar o pênis não é uma opção segura. O índice de complicações e de insatisfação com estes tratamentos é BASTANTE alto. Mais de 90% dos homens que se submeteram aos procedimentos de aumento peniano relataram piora do problema inicial ou ausência de benefício e estavam, portanto, ARREPENDIDOS!
Se você está incomodado com o tamanho do seu pênis, procure um urologista especializado na área e discuta abertamente suas preocupações e expectativas. O exame físico detalhado, incluindo as medidas do pênis de forma adequada deve ser realizado neste momento. Homens que passaram por cirurgia radical da próstata ou que têm a doença de Peyronie podem precisar de tratamento específico.
Avaliação por um psicólogo especializado na área é também essencial para a compreensão dos aspectos emocionais e comportamentais envolvidos.
Conforme recomendações da Associação Americana de Urologia, os implantes penianos, também chamados de próteses penianas são uma das opções de tratamento para pacientes com disfunção erétil, assim como o uso de medicações orais ou injetáveis e a melhor opção de tratamento (clínico ou cirúrgico) deve ser decidido em conjunto pelo médico e seu paciente. No entanto, a maioria dos especialistas no Brasil, reserva o implante de prótese peniana para situações em que as medidas menos invasivas, como medicação oral ou injeção intracavernosa não apresentaram sucesso.
Além disso, o implante de prótese peniana pode ser recomendado em casos específicos, onde a restauração da anatomia peniana é necessária, como nos casos mais complexos de doença de Peyronie (curvatura ou deformidade peniana complexa), traumas penianos ou cirurgias de redesignação sexual.
Existem 3 tipos de próteses penianas e cada uma tem suas vantagens e desvantagens, que devem ser discutidas com o paciente antes do procedimento, afim de decidir qual o modelo mais adequado para cada caso.
Prótese maleável ou semi-rígida: trata-se de dois cilindro maciços, feitos de silicone, envolvendo um filamento metálico. Neste caso, o pênis tem rigidez necessária para penetração e alguma maleabilidade na mudança de posição. Esta prótese tem um custo mais baixo e é a opção de escolha para pacientes com menos habilidade manual.
Prótese inflável de 3 volumes: neste caso, os cilindros são ocos, feitos de material resistente porém flexível, possibilitando insuflação (pênis ereto) e desinsuflação (pênis flácido) da prótese. Dessa maneira, o pênis passa a ter uma função mais próxima das condições fisiológicas. Para que os cilindros possam alternar entre “cheios” ou “vazios”, são implantados também um reservatório na pelve do paciente, onde o liquido que vai inflar a prótese no momento da ereção fica armazenado, e uma bombinha, posicionada no escroto, a partir da qual o mecanismo de insuflação/desinsuflação poderá ser acionado.
Prótese inflável de 2 volumes: modelo similar à prótese de 3 volumes, porem neste caso o reservatório fica justaposto aos cilindros, como uma unidade única . Este modelo tem um valor intermediário, porém a posição do reservatório, junto dos cilindros, é um fator que pode predispor funcionamento inadequado da prótese.
O pênis curvo congênito é relativamente incomum e aparece tardiamente na adolescência ou no início da vida adulta. A incidência é estimada entre 0.6%, mas a estimativa da doença clinicamente significante é muito menor, já que o grau de desvio e a disfunção sexual possuem uma grande variabilidade.
O pênis curvo congênito pode ser muitas vezes classificado, erroneamente, como doença de Peyronie, devido a sua manifestação clínica similar; embora a etiologia e a fisiopatologia sejam diferentes.
A curvatura pode ser para qualquer lado, sendo a dorsal (virada para o umbigo) a mais comum. Em algumas casos a curvatura pode vir associada à hipostádias/epispádias.
Enquanto a maioria das malformações penianas aparecem na infância o pênis curvo congênito tende a se manifestar no fim da adolescência e início da vida adulta, como uma tortuosidade peniana durante a ereção. Muitas vezes o paciente se queixa que seu pênis “dobra” quando tenta realizar uma penetração. Os que possuem curvaturas maiores que 30 graus tendem a procurar mais ativamente ajuda médica.
A curvatura peniana provoca um impacto muito grande na confiança e autoestima do paciente, gerando muitas vezes depressão e isolamento social.
O tratamento do pênis curvo congênito é cirúrgico, podendo ser feito diminuindo um pouco o lado longo da curvatura peniana; ou aumentando o lado curto, com a inserção de um enxerto. Cada caso deve ser individualmente analisado e discutido com seu médico, levando-se e consideração os prós e contras de cada técnica.
As cirurgias são indicadas no momento em que o paciente está na fase estável da doença, isto é, com mais de 6 meses sem dor, sem priora da deformidade peniana (curvatura, redução do calibre) ou sem aumento da placa (nódulo palpável). Além disso a deformidade resultante deve dificultar ou impossibilitar a penetração, limitando a atividade sexual do paciente. Outra indicação cirúrgica são as disfunções sexuais eréteis graves, que não conseguiram ser tratadas com medicação oral ou injetável.
Aproximadamente 1/3 dos pacientes acometidos pela doença de Peyronie vão apresentar disfunção sexual erétil.
Procure seu médico urologista que se dedique à medicina sexual, para te orientar sobre qual o melhor tratamento para o seu caso.
A Fimose é um anel fibrótico que se forma na tentativa de tração do prepúcio permitindo ou não a exposição da glande. A presença desse anel é considerada normal em crianças até os 3 anos de idade, nas quais, praticamente 90% delas não mais o possuem.
Os homens que permanecem com esse anel podem, durante sua vida, apresentar dificuldade na exposição da glande, dificultando a sua limpeza e tornando-se mais aptos ao desenvolvimento de infecções locais, que chamamos de balanopostites. Quando muito frequentes, essas infecções podem alterar a elasticidade da pele levando a formação de fissuras e lesões que atrapalham a vida social e sexual do paciente.
Portanto, a cirurgia de retirada da Fimose, também conhecida como Postectomia, é indicada em pacientes com quadros de balanopostites de repetição, manutenção do anel fimótico mesmo após tentativas de tratamentos tópicos farmacológicos, melhora da higiene local ou por questões estéticas.
É importante lembrar, que a avaliação do paciente por médico especializado, no caso o urologista, é fundamental para evitar complicações relacionadas a cirurgia ou resultados indesejados.
De acordo com um estudo publicado no BJU International, que envolveu 15500 homens, o comprimento médio do pênis no estado flácido foi de 9,1cm e, em ereção, 13,1cm. Já a circunferência, variou de 9,3cm em flacidez a 11,6cm no estado de ereção na maioria dos homens estudados. É importante ficar claro que isso é uma média. Valores pouco abaixo ou pouco acima destas medidas também são considerados normais. Além disso, não existe uma padronização de como deve ser medido o pênis (deitado, em pé, flácido, ereto ou qual a temperatura ambiente adequada), o que pode trazer diferenças significativas nas medidas. A crença de que um pênis mais longo ou com maior diâmetro pode ser capaz de proporcionar maior prazer, entre outros fatores, motivam muitos homens a buscar alternativas para aumento do seu pênis.
As principais situações que podem levar a fratura peniana são: intercurso sexual, masturbação e o rolamento na cama durante o sono e com o pênis em ereção. No entanto, o mecanismo de lesão mais comum se dá quando, durante o ato sexual, o pênis sai do canal vaginal e é comprimido contra o púbis ou o períneo feminino. Cerca de 60% dos casos se dão durante intercurso sexual consensual e é mais comum quando a mulher está sentada sobre o pênis.
A espessura da túnica albugínea quando o pênis está em estado flácido é de cerca de 2 mm e essa tem um afilamento para cerca de 0,25 a 0,5 mm quando em ereção, o que o deixa mais vulnerável a fratura.
O diagnóstico da fratura peniana, normalmente, se dá apenas com análise da história contada e por meio de um exame físico, onde muitas vezes pode-se palpar a área de fratura no corpo peniano. Porém existem situações em que é necessário a complementação do diagnóstico com exames de imagem principalmente quando há suspeita de trauma uretral associado.
Quando diagnosticada, a fratura peniana deve ser tratada através de uma intervenção cirúrgica que se resume ao fechamento da área danificada e verificação da integridade de outras estruturas do pênis como a uretra. O ideal é que essa abordagem seja realizada em no máximo 24 horas após o trauma devido ao risco de desenvolvimento de impotência sexual, curvatura e encurtamento peniano decorrente de um processo errôneo de cicatrização.
O priapismo é uma ereção peniana dolorosa e prolongada, geralmente não acompanhada de estímulo ou excitação sexual. Pode ocorrer de duas formas: O priapismo isquêmico ou de baixo fluxo é a forma mais comum, sendo caracterizado por baixo ou nenhum fluxo sanguíneo nos corpos cavernosos, levando a taxas anormais dos gases no sangue cavernoso. Pode estar relacionado a doenças hematológicas, uso de drogas recreativas ilícitas, uso indiscriminado de medicamentos para tratamento de disfunção erétil ou mesmo de medicamentos psicotrópicos. É uma urgência urológica, pois o retardo para a abordagem terapêutica numa ereção peniana que se prolonga por mais de 4 horas pode comprometer a oxigenação do tecido erétil e consequentemente a função erétil do homem.
O priapismo não isquêmico ou de alto fluxo é uma forma menos comum de priapismo, que tem origem num aumento do fluxo arterial para os corpos cavernosos, geralmente como consequência a um trauma perineal ou em região genital e que resulta em lesão da artéria cavernosa. Pode ser tratado de forma conservadora, mas requer avaliação urológica.
A procura por procedimentos que promovam o aumento peniano é relativamente corriqueira em consultórios de urologia. Pela impossibilidade de alongamento da uretra peniana, e em homens com pênis normal, não há qualquer recomendação para a realização destes procedimentos. No entanto, em algumas situações clínicas, o uso de extensores penianos tem ganho algum papel de destaque em estudos mais recentes. Na Doença de Peyronie, pode ser usado isoladamente tanto na fase aguda como crônica, ou mesmo associado a alguma outra modalidade de tratamento como a cirurgia. Outra possibilidade é o uso no pós-operatório de cirurgia para tratamento do câncer de próstata. Nestas situações, o uso de extensores penianos objetiva promover uma redução da curvatura ou da deformidade peniana, ou o reestabelecimento da perda de comprimento peniano. A literatura médica ainda carece de estudos mais robustos sobre o tema, não havendo até o momento evidencias suficientes para uma recomendação definitiva acerca da utilização destes dispositivos. Os dados disponíveis ainda são pobres e o impacto desta terapia ainda não está claramente estabelecido. No entanto, dados preliminares em estudos recentes sugerem que aparentemente a tração peniana é uma opção de tratamento válida e promissora em Doença de Peyronie, com efeitos adversos limitados. Resultados encorajadores quanto a eficácia e segurança do extensor peniano vem levando ao desenvolvimento de novos dispositivos e ao desenho de estudos com envolvimento de maior número de pacientes e protocolos mais adequados.
LGBTQI
É a sigla oficial usada para diversidade sexual e de gênero, (o termo inclui os indivíduos que não se referem como heterossexuais ou cisgênero). A seguir, o significado de cada letra da sigla:
L: lésbicas (mulheres que sentem atração sexual e/ou romântica por outras mulheres)
G: gays (homens que sentem atração sexual e/ou romântica por outros homens)
B: bissexuais (pessoas que sentem atração sexual e/ou romântica por homens e mulheres)
T: transgênero, transexual e travestis (abraça o grupo de indivíduos que sentem que sua identidade de gênero é diferente daquela atribuída ao nascimento).
Q: queer (termo empregado para aqueles que não se identificam com os padrões associados a cisheteronormatividade).
I: intersexo (palavra usada para aqueles que apresentam diferenças no desenvolvimento sexual, ou seja, pessoas que nascem com características que não podem ser atribuídas totalmente ao feminino ou masculino).
A: assexuais (termo usado para as pessoas que não sentem atração sexual por outras).
+: este símbolo é empregado para representar a inclusão de outras variações da orientação sexual ou gênero, por exemplo: demissexual (pessoa que manifesta atração sexual quando há envolvimento emocional com outra pessoa), pansexual (pessoa que sente atração sexual e/ou emocional por outra, independentemente de sua identidade de gênero ou sexo), agênero (pessoa cuja identidade de gênero é nula – nenhuma), e assim por diante.
Para melhor responder essa pergunta, precisamos lembrar alguns conceitos:
Gênero: termo genérico para designar – homem e mulher, ou outra condição diferente das anteriores.
Sexo: características que distinguem masculinidade ou feminilidade biológica. Eles podem incluir os genes determinantes do sexo, os cromossomos sexuais, as gônadas, os hormônios sexuais, a genitália interna e externa e as características sexuais secundárias.
Gênero atribuído ao nascimento: refere-se à designação inicial como menino/homem ou menina/mulher, que corresponde ao sexo (masculino ou feminino).
Identidade de gênero: senso/percepção interna do gênero de uma pessoa.
Cisgênero (cis): termo usado para aqueles que sentem que sua identidade de gênero corresponde ao gênero atribuído ao nascimento.
Orientação sexual: atração física e/ou emocional de um indivíduo por outra pessoa.
Portanto, a cisheteronormatividade enxerga como modelo da sociedade as pessoas cisgênero (cuja identidade de gênero corresponde ao gênero atribuído ao nascimento: menino/homem ou menina/mulher) e com orientação heterossexual (atração sexual e/ou emocional por pessoas do outro gênero atribuído ao nascimento). Ao refletirmos nesse modelo binário, podem surgir várias questões:
i) e as pessoas que apresentam diferenças no desenvolvimento sexual e por conseguinte o sexo não é tipicamente masculino ou feminino?;
ii) e as pessoas que sentem/percebem que sua identidade de gênero é diferente do gênero atribuído ao nascimento?;
iii) e as pessoas que sentem atração sexual e/ou romântica por pessoas do mesmo gênero atribuído ao nascimento?;
iv) e os que sentem atração sexual e/ou emocional por ambos os gêneros?; vi) e os que não sentem atração sexual?; etc.
Gênero-binário é uma expressão habitualmente usada para designar circunstâncias que correspondem ao padrão social cisgênero (pessoas que se identificam com o gênero atribuído ao nascimento); em outras palavras, com as possibilidades binárias:
a) menino/homem ou b) menina/mulher.
Gênero não-binário é um termo genérico que descreve aqueles que sentem que sua identidade de gênero está fora ou entre identidades masculinas e femininas, como uma pessoa que pode experimentar ambas as identidades ou para quem não experimenta nenhuma.
Gênero não-conforme escreve indivíduos cuja identidade de gênero, papel ou expressão difere do que é esperado para os gêneros socialmente aceitos (geralmente, homem ou mulher) em uma determinada cultura e determinado tempo.
Portanto, os limites entre as identidades de gênero podem se sobrepor.
Tem-se observado a ampliação da compreensão pela sociedade que a identidade de gênero não é somente binária (menino/homem ou menina/mulher). Assim como, outro conceito que vem sendo incorporado socialmente é o de gênero-fluido, ou seja, para aqueles que não se identificam com uma única identidade de gênero ou que a percepção da identidade de gênero varia ao longo da vida dessa pessoa.
Sim, diversos estudos apontam que as pessoas com diversidade de gênero e/ou orientação sexual experenciam desigualdades em diversos aspectos de saúde quando comparadas a população em geral. De maneira geral observam-se maiores índices de depressão, ansiedade e uso de substâncias psicoativas (como álcool e drogas ilícitas) na população LGBT+, e esses índices tornam-se ainda mais preocupantes na população transgênero, que também apresentam taxas mais elevadas de ideação suicida, suicídio e/ou autolesões não suicidas. Por isso é primordial que os profissionais de saúde se familiarizem com a gama de opções e recursos terapêuticos disponíveis para melhor assistirem e cuidarem dessa população.
5. O que são procedimentos de afirmação de gênero e a partir de que idade eles podem ser realizados?
Procedimentos de afirmação de gênero são tratamentos por meio de hormônios e/ou cirurgias que pessoas com diversidade de gênero podem acessar, com a finalidade de afirmarem características físicas ao gênero que se identificam. Por exemplo: uso de hormônios sexuais masculinos por homens transgênero, cirurgia genital/neovulvovaginoplastia para mulheres trans.
Vale lembrar que nem todas as pessoas com diversidade de gênero sentirão a necessidade de tratamentos de afirmação de gênero.
A Resolução 2.265/2019 do Conselho Federal de Medicina (CFM) ao comentar sobre as ações e condutas realizadas por profissionais médicos nos serviços de saúde públicos e privados, às pessoas com incongruência de gênero ou transgênero, incluindo-se nesse grupo transexuais, travestis e outras expressões identitárias relacionadas a diversidade de gênero esclarece:
a) que é vedada a realização de procedimentos cirúrgicos de afirmação de gênero antes dos 18 anos de idade;
b) a terapia com uso de hormônios sexuais pode ser administrada a partir dos 18 anos de idade, bem como ser iniciada em adolescentes a partir dos 16 anos de idade, com anuência do adolescente e do seu responsável legal.
São indicados os procedimentos cirúrgicos para afirmação de gênero para as pessoas com incongruência de gênero e que não se sentem confortáveis ou que tenham sofrimento com a aparência do seu corpo. Para melhor promover os cuidados às pessoas transgêneros, o Conselho Federal de Medicina publicou a resolução do nº 2265 em 20 de setembro de 2019 onde regulamenta a atenção médica especializada. Nesta resolução constam:
Art. 11. ... é vedada a realização de procedimentos cirúrgicos de afirmação de gênero antes dos 18 (dezoito) anos de idade.
§ 1º Os procedimentos cirúrgicos de que trata esta Resolução só poderão ser realizados após acompanhamento prévio mínimo de 1 (um) ano por equipe multiprofissional e interdisciplinar.
§ 2º É vedada a realização de procedimentos hormonais e cirúrgicos, descritos nesta Resolução, em pessoas com diagnóstico de transtornos mentais que os contraindiquem.
As cirurgias para afirmação de gênero têm como objetivo promover melhor qualidade de vida, bem-estar emocional e grande satisfação pessoal.
No homem transexual os procedimentos realizados são a retirada das mamas, do útero, dos ovários e da vagina. Como última etapa temos a masculinização da genitália externa com a confecção de um pênis (Neofalos) e escrotoplastia com colocação de próteses testiculares.
Para a confecção de um pênis temos dois tipos de cirurgias: a metoidioplastia e a neofaloplastia com o uso de retalhos cutâneos.
A metoidioplastia, nome derivado da síntese dos termos gregos Meta (em direção a) e Oidion (genitália masculina), é uma das opções cirúrgicas para a masculinização da genitália externa do homem transexual, que consiste basicamente na confecção de um pênis estéticamente aceitável a partir do clitóris hipertrofiado pelo uso prévio do hormônio masculino, com o qual o paciente terá sensibilidade erógena preservada, além da possibilidade de atividade sexual com eventual penetração (dependendo do comprimento fálico obtido) e de micção na posição em pé. Com esta técnica habitualmente temos uma genitália externa com aspecto masculino, porém com uma desproporção entre o tamanho do paciente e do neofalos.
A neofaloplastia utiliza retalhos de pele e gordura de outras partes do corpo (antebraço, abdômen, tronco, pernas, entre outros) que serão utilizados para confeccionar uma estrutura tubular, com aspecto de um pênis. Esta estrutura não tem a capacidade de ereção e nem sempre tem sensibilidade. A genitália fica com aparência masculina, pênis com tamanho e diâmetros de um homem adulto. Para ter atividade sexual com penetração é necessária a colocação de próteses penianas na estrutura tubular peniana, porém estas somente podem ser colocadas se existir sensibilidade no neofalos, caso contrário, existem riscos de traumas e perda das próteses.
As cirurgias para afirmação do gênero feminino englobam as cirurgias de face, colocação de próteses mamárias, cirurgias das cordas vocais, retirada do pomo de adão e a genitoplastia feminizante. São várias especialidades cirúrgicas envolvidas que tem como objetivo proporcionar melhor qualidade de vida e o bem-estar das mulheres trans que não se sentem confortáveis com o seu corpo.
A genitoplastia feminizante consiste na confecção de uma neovagina, de um clitóris e de pequenos e grandes lábios. Diferentes técnicas cirúrgicas são descritas na literatura para a neovaginoplastia, em 1938 a primeira cirurgia utilizou enxerto de pele não genital, seguido pelo uso de pele peniana, enxertos intestinais, enxertos peritoneais, mais recentemente enxerto de mucosa oral e matrizes acelulares. A melhor abordagem não é consenso pela falta de grandes estudos comparativos. Independentemente do método de reconstrução, os objetivos permanecem os mesmos: criar uma vagina e vulva funcional e esteticamente aceitável, com função miccional normal e função sexual satisfatória.
Atualmente, a técnica mais difundida para a construção do canal vaginal é a "técnica de inversão peniana". Inicialmente era realizada colocando a glande no fundo da vagina, pois acreditava-se que daria maior sensibilidade. Hoje a glande é utilizada na confecção de um neoclitoris com aspecto mais feminino e mantendo boa sensibilidade.
Durante o desenvolvimento sexual habitual temos a interação de genes, hormônios e seus receptores que determinam o desenvolvimento de um indivíduo para o sexo masculino ou feminino. Quando temos uma condição atípica nas etapas do desenvolvimento sexual, seja nos genes, nos ovários ou nos testículos ou na genitália, chamamos de diferenças no desenvolvimento sexual ou intersexo.
Nos dois primeiros meses de vida não é possível afirmar se o feto é do sexo masculino ou feminino. No início do terceiro mês os órgãos reprodutivos começam a se diferenciar. Quando o desenvolvimento sexual é modificado pode acontecer a alteração na aparência dos genitais, que pode ser observada no nascimento ou mesmo em outros momentos da vida de uma pessoa, como a puberdade ou até mesmo na vida adulta
A alteração no desenvolvimento genital é causada por uma virilização incompleta dos genitais masculinos ou por uma virilização inadequada dos genitais femininos. Várias são as causas que levam a estas condições, entre elas, algumas que levam a risco de vida como no caso da Hiperplasia Adrenal Congênita onde um bebe pode morrer por desidratação se o diagnóstico não for feito prontamente. (Adaptação do Material elaborado na Divisão de Endocrinologia do Hospital das Clínicas e na disciplina de Endocrinologia da FMUSP Autores: Profa. Berenice B. Mendonça / Ana Fukui/ Carolina Reis Gaudêncio)
Quando o bebê nasce com uma alteração no desenvolvimento dos genitais, a equipe médica da maternidade, por não ser especializada, muitas vezes não pode afirmar qual alteração que o bebê tem. Mas certamente serão capazes de fazer testes iniciais para diagnóstico e encaminhar para um centro especializado.
A atipia genital é rara 1:4500 nascimentos, mas trazem um grande dilema que é a atribuição do sexo do bebê ao nascimento, e podem apresentar risco de vida quando a causa for a hiperplasia adrenal congênita.
Em primeiro lugar devemos mostrar tranqüilidade e segurança aos pais, orientar quanto as causas que podem ter levado a atipia genital, explicar resumidamente os princípios do desenvolvimento sexual e os possíveis diagnósticos. Não definir o sexo antes de uma investigação adequada. O diagnóstico nem sempre é possível logo ao nascimento, mas testes rápidos com estudo hormonal e de genes podem direcionar a melhor definição do sexo nos primeiros dias de nascimento. Para a definição do sexo deve ser levado em conta o diagnóstico, a aparência da genitália externa, as opções cirúrgicas, necessidade de reposição hormonal, fertilidade e a opinião dos pais. Esta última é soberana à todas as anteriores e deve ser baseada em todos os esclarecimentos fornecidos pela equipe multidisciplinar.
A atuação de uma equipe especializada multidisciplinar e interdisciplinar é fundamental para a melhor abordagem do paciente e seus familiares. As equipes da pediatria, da psicologia, da endocrinologia, da cirurgia, da enfermagem, da assistência social, todas devem estar em contato para que sejam congruentes em suas orientações e não causar insegurança aos pais.
DAEM e endocrinopatias
A disfunção erétil é a incapacidade de manter uma ereção satisfatória para realizar atividade sexual. Em pacientes diabéticos, perto da metade se queixará de algum grau de disfunção no decorrer da vida e muito antes do diagnóstico de DM ela poderá ser encontrada. A disfunção erétil no paciente com alteração nos níveis de glicose no sangue e com de diabetes acontece muitas vezes entre 5 a 15 anos antes do diagnóstico.
Ou seja, podemos afirmar que perto de 50% dos homens acima de 50 anos de idade e com Diabetes Mellitus tem disfunção erétil; tudo isso se agrava no homem sedentário, tabagista, com alteração nos níveis de colesterol, obeso e hipertenso.
A causa mais comum de aumento do nível sérico da prolactina é a gravidez (isso não é doença – é fisiológico, normal). Dentre os aumentos anormais, a causa mais comum é uso de medicamentos, em especial os anticoncepcionais orais combinados, medicamentos psiquiátricos (como alguns antipsicóticas e antidepressivos), anti-hipertensivos e medicamentos para o trato digestório (remédios para enjoos e para o estômago).
Existem ainda os adenomas secretores da hipófise (tumores benignos), o hipotireoidismo (doença da tireoide) e a síndrome dos ovários policísticos que podem causar hiperporlactinemia.
A testosterona é o principal hormônio sexual masculino, responsável pelo desenvolvimento dos tecidos reprodutores (testículos e próstata) e pelas características sexuais secundárias nos homens, como tipo de voz, distribuição de pelos e massa muscular. Também está presente nas mulheres, mas em menor quantidade.
Com o envelhecimento, normalmente os níveis de testosterona masculinos diminuem e podem causar problemas como disfunção erétil, perda do desejo sexual, osteoporose, perda de massa muscular, acúmulo de gordura visceral e desinteresse generalizado, que pode ser confundido com depressão em alguns casos.
Para mais informações, consulte um endocrinologista, ginecologista ou urologista.
A DE é uma queixa comum e que faz parte de diversas doenças entre elas o mal controle do colesterol (dislipidemia), saiba que para cada aumento do colesterol total ou do LDL colesterol há uma piora na tabela de classificação da qualidade da ereção.
O colesterol alto levará a rigidez dos vasos sanguíneos (arteriosclerose), a obstrução dos vasos que irrigam o pênis dificultando o preenchimento completo (corpos cavernosos) e sua rigidez. A boa notícia é saber que reduzir os níveis de colesterol principalmente com medicamentos reverteu essa situação em um grande grupo de pacientes.
Parafilias
As parafilias são as vivências sexuais (fantasias e/ou comportamentos) dirigidas a um objeto não convencional – que é o objeto sexual não humano, adulto e/ou vivo. Devem ser intensas, recorrentes e preferenciais (ou seja, a parafilia não requer exclusividade) para serem assim denominadas. Acontecem entre adultos que escolhem (ou seja, consentem) ter aquela vivência, e não geram sofrimento para os próprios indivíduos e para aqueles que estão ao seu redor.
Os transtornos parafílicos (TP), por sua vez, são as parafilias que envolvem sofrimento e/ou prejuízo funcional para o indivíduo. É comum, ainda, que não haja consentimento da outra parte, gerando assim sofrimento e/ou prejuízo para a sociedade. O TP é um tipo de transtorno mental, e assim aparece classificado nos principais manuais diagnósticos utilizados em Psiquiatria – o DSM-5 e a CID-11.
Em outras palavras, parafilia é o título dado à sexualidade experimentada de modo não convencional não patológico. Já TP é o nome dado à sexualidade experienciada de maneira não convencional patológica. O TP é, portanto, a parafilia associada a sofrimento e/ou prejuízo funcional para si e/ou para o outro.
Os TP costumam acometer ao redor de 1% dos indivíduos. São muito mais comuns em homens do que em mulheres, e são notados, na maior parte das vezes, entre os 15 e os 25 anos de idade (ou seja, no início da vida sexual de uma pessoa). Alguns exemplos podem ser citados: o fetichismo/transtorno fetichista, o exibicionismo/ transtorno exibicionista e a pedofilia/transtorno pedofílico.
A palavra “cura” carrega certo conceito restritivo quando aplicada a uma seara complexa e multifacetada como é a da sexualidade humana. Falar em “cura” implicaria dizer que há uma experiência sexual dita certa e outra dita errada, e que se trata de um imperativo restabelecer um estado de correção diante de uma sexualidade conduzida por vias consideradas incorretas. Não se trata, afinal, de transpor o incorreto ao correto, senão de resgatar no indivíduo as possibilidades múltiplas, e não restritas, de sua experiência sexual – segundo a normalidade de uma dada cultura em uma dada época.
Portanto, em relação aos TP, ou seja, às vivências sexuais não convencionais patológicas, falamos em controle clínico ou resposta ao tratamento. Tais alvos devem ser alinhados entre paciente e equipe terapêutica, congregando expectativas e objetivos. Nesse sentido, os TP podem ter boa resposta terapêutica e o indivíduo parafílico pode experimentar bom controle clínico de sua doença.
O tratamento, enfim, é um processo no qual o sujeito desenvolve meios para expandir suas vivências não apenas sexuais, mas também pessoais, e é através dele que o sofrimento é aliviado e que novas ferramentas relacionais são constituídas. Assim, é possível incluir uma preferência sexual diferente dentro de uma rotina sexual saudável e ampliar as possibilidades individuais mais gerais.
O tratamento dos TP é caracterizado por duas frentes que se complementam: a via farmacológica e o processo psicoterapêutico. Ambas pretendem colaborar para que o paciente retome ou construa a possibilidade de se relacionar com um humano adulto vivo. O tratamento deve agir tanto na inibição ou diminuição da compulsividade sexual e recorrência do comportamento parafílico, como na criação de novas possibilidades relacionais.
A escolha da medicação é feita após o diagnóstico do TP específico e o mapeamento de possíveis comorbidades psiquiátricas, clínicas e sexuais. A consideração do tratamento mais adequado dependerá deste arranjo existente entre o TP e as eventuais comorbidades.
A psicoterapia atua sinergicamente à medicação. Ela propicia ao paciente a ampliação do seu campo relacional, intervindo tanto no momento presente como em possíveis entraves e marcas da história deste indivíduo. A identificação dos componentes do comportamento parafílico é fundamental para o tratamento. O processo psicoterapêutico pode acontecer na modalidade de grupo ou individual.
Nesta direção, o tratamento do transtorno parafílico permite ao paciente controlar a repetida e compulsiva atividade parafílica, que deixará de se apresentar como única ou maior fonte de excitação sexual, e o autorizará a ampliar suas possibilidades sexuais e existenciais em sentido mais geral.
Nós, do Departamento de Parafilias da ABEMSS, compreendemos que a melhor forma de prevenir comportamentos parafílicos lesivos à sociedade, bem como minimizar o intenso sofrimento que pode acometer o próprio indivíduo parafílico, é o tratamento. Falamos aqui de tratamento clínico interdisciplinar – conduzido por psiquiatras, psicólogos e outros profissionais dedicados ao estudo da Sexualidade Humana.
É importante ressaltar que há comportamentos parafílicos que também configuram crimes sexuais. Nestes casos, é função do profissional simultaneamente proteger a sociedade dos impactos dos comportamentos parafílicos, bem como reduzir o estigma que recai sobre eles. Os valores que estão em jogo são, ao mesmo tempo, a função social do profissional de saúde – que pode ser visto como guardião dos preceitos de uma sociedade; e o sigilo profissional – que resguarda ao paciente a possibilidade de se colocar em ambiente seguro, desde que não tenha incorrido em crimes.
É instrumento do profissional de saúde que lida com indivíduos que cometeram crimes sexuais a denúncia para órgãos competentes (como os conselhos tutelares em casos de abuso de crianças), e pode ser utilizado mediante consideração clínica. Nestes casos, deve-se pesar o risco-benefício da denúncia em detrimento do potencial terapêutico do vínculo entre profissional e paciente.
Para tratar adequadamente um indivíduo parafílico, é fundamental que o profissional envolvido deixe seus juízos de valor do lado de fora do consultório. Todos nós temos opiniões a respeito do que pensamos ser certo e errado sobre sexualidade; o médico, o psicólogo e o profissional da saúde, contudo, devem exercer suas funções despidos de preconceitos.
O tratamento farmacológico dos TP é de significativa importância e, muitas vezes, indispensável. Tal modalidade terapêutica pode acarretar a redução dos desejos, das fantasias, dos impulsos e dos comportamentos sexuais parafílicos, proporcionando um apaziguamento do sofrimento psíquico do indivíduo, melhorando sua qualidade de vida e reduzindo o risco de injúria a outras pessoas. Para eleger o tratamento medicamentoso mais adequado, deve-se levar em conta a prévia história médica do paciente, a adesão do indivíduo ao tratamento proposto, a intensidade das fantasias e dos comportamentos sexuais e o risco de agressão sexual.
As medicações comumente utilizadas são os antidepressivos, especialmente os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), e os antipsicóticos. Dentre outras opções farmacológicas também consideradas, podem ser citados o antagonista opioide naltrexona e os estabilizadores de humor/anticonvulsivantes.
Ainda não existe consenso acerca da duração mínima da terapia medicamentosa. Algumas diretrizes indicam o período de, pelo menos, três a cinco anos para casos considerados graves. Contudo, partindo-se da ideia de que os TP são condições crônicas, pode ser necessário um tratamento por tempo indeterminado.
É válido ressaltar que, embora seja encontrado na literatura científica, o tratamento hormonal (por exemplo, com fármacos antiandrogênicos) não está autorizado no Brasil. Todavia, é utilizado em outros países, sobretudo em casos de criminosos sexuais, que são avaliados e tratados através de protocolos específicos.
Os TP podem ser considerados na esteira dos comportamentos sexuais desviantes que foram aprendidos e desenvolvidos em algum momento da história de vida do indivíduo. Por serem vistos como comportamentos aprendidos, podem ser modificados pelo aprendizado de um novo padrão comportamental.
A psicoterapia terá como objetivo inicial, então, identificar a angústia do indivíduo parafílico, bem como levantar os possíveis desencadeadores ou gatilhos do desejo e da ação sexual em questão. A partir daí, trabalha-se para tentar expandir ou substituir as preferências sexuais, ampliando as possibilidades sexuais e relacionais deste indivíduo. O foco principal do trabalho psicoterapêutico é minimizar o padrão da excitação sexual para a fantasia desviante e incômoda, e aumentar a excitação convencional; ou seja, em última instância, trata-se aqui de recanalizar o seu desejo.
No espectro das abordagens terapêuticas possíveis, vale mencionar que, embora o método comportamental seja o mais bem correlacionado à melhora clínica na literatura, qualquer método psicoterapêutico pode ser empregado no contexto dos TP, seja na modalidade individual ou de grupo, desde que se cultive o vínculo entre terapeuta e paciente.
Outro componente fundamental da psicoterapia é a educação em sexualidade, processo pelo qual se busca discutir o desenvolvimento sexual individual, resgatar vivências anteriores do paciente e desconstruir possíveis mitos e crenças sobre comportamentos e funções sexuais.
Por fim, ressalta-se que, durante todo o desenvolvimento do processo psicoterapêutico, é de grande importância que se auxilie o indivíduo a desenvolver estratégias protetivas para prevenção de possíveis recaídas.
O tratamento de indivíduos portadores de TP é sempre multi e interdisciplinar. Assim, a/o profissional de saúde de qualquer área poderá se capacitar para o manejo clínico desses casos.
Nesse sentido, faz-se necessário se aprofundar no estudo da Sexualidade Humana, seja por meio da filiação a agremiações de reconhecida competência na área (como a ABEMSS), seja através de especialização acadêmica em cursos regulamentados de pós-graduação. A atualização é requisito fundamental para o bom andamento da formação do profissional na área da sexualidade. Acompanhar a vanguarda da ciência e da literatura sobre o tema, portanto, é um imperativo para estes profissionais.
A experiência clínica não deixa de ser etapa fundamental neste processo. O profissional pode e deve buscar serviços vinculados a instituições de saúde sexual, na maioria das vezes ligados a hospitais gerais e institutos de psiquiatria, que cuidem de maneira interdisciplinar de indivíduos parafílicos. No Brasil, ainda são poucos os locais que ofertam atendimento especializado.
Vale destacar que é imprescindível ao profissional de saúde ter a perspectiva da humanidade e da empatia. Devemos nos despir de julgamentos morais para bem acolhermos os indivíduos parafílicos, lembrando que, majoritariamente, são pessoas que experimentam graus elevados de sofrimento e de estigma social.
A parceria (parceiro ou parceira sexual) de um indivíduo parafílico poderá contribuir significativamente com o tratamento em momentos distintos. No caso daqueles que ainda não iniciaram tratamento, a parceria poderá incentivar a procura por auxílio profissional especializado. Quando a indivíduo já se encontra em tratamento, sua parceria poderá comparecer aos encontros terapêuticos sempre que necessário. Enfim, pode-se dizer que uma parceria dedicada e compreensiva será um bom determinante dos encaminhamentos terapêuticos do indivíduo parafílico.
De acordo com a literatura científica, a existência de parceria romântica-sexual pode reduzir as chances de o indivíduo parafílico reincidir em comportamentos sexuais inconvenientes, assim como ser figura importante na reintegração social deste indivíduo.
Em casos selecionados, a terapia de casal ou familiar será indicada. Nessas situações, o desenvolvimento de intimidade sexual e a ampliação do repertório sexual se farão necessários, em um processo a ser realizado pelo casal.
Por fim, pode-se dizer que o exercício de empatia e a ausência de julgamento pelas parcerias afetivas e sexuais são fatores de extrema importância no tratamento dos indivíduos parafílicos.
Este quadro clínico pode ser caracterizado pela ocorrência de fantasias, impulsos, preocupações, desejos e/ou comportamentos sexuais recorrentes e de elevada intensidade, podendo acarretar relações sexuais compulsivas (muitas vezes com múltiplas parcerias), masturbação compulsiva, consumo incessante de pornografia e de outros materiais com conteúdo sexual, bem como uso acentuado da internet para práticas sexuais virtuais. No início, o indivíduo não costuma perceber os prejuízos decorrentes dessas experiências, havendo uma subestimação da condição – o que conduz a um atraso na procura por auxílio profissional. Com o passar do tempo, porém, tal quadro acaba por provocar significativo prejuízo psicossocial ao sujeito.
O tratamento pode ser realizado através de medidas farmacológicas e não farmacológicas. A intervenção medicamentosa busca reduzir o desejo sexual exacerbado, a alta frequência de masturbação e do consumo de pornografia, bem como prover algum grau de regulação dos impulsos, atenuando o padrão compulsivo do comportamento sexual. Dentre os fármacos mais utilizados, destacam-se principalmente os antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS). Outros recursos medicamentosos são os anticonvulsivantes e o antagonista opioide naltrexona. Quando a terapia com um único fármaco se mostra insatisfatória, podem ser instituídas associações como: ISRS + anticonvulsivantes ou ISRS + naltrexona.
A psicoterapia é imprescindível no tratamento, e pode ser realizada tanto no formato individual quanto grupal. Considerando-se o impacto negativo que o transtorno causa no contexto do indivíduo, a terapia familiar e a terapia de casal também podem ser empreendidas. Como estratégia adjuvante às demais modalidades terapêuticas, podem funcionar os grupos de ajuda mútua, como Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (DASA) e Compulsivos Sexuais Anônimos, irmandades orientadas pelos “Doze Passos e Doze Tradições”, cuja base encontra-se no modelo original dos Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA).
O termo BDSM é uma abreviação de Bondage (que pode ser entendido como escravidão e servidão) e Disciplina, Dominação e Submissão, Sadismo e Masoquismo. O BDSM abarca um rol de experiências sexuais nas quais, por consentimento mútuo, pode haver contenção física e/ou fantasia sobre dominância e submissão – elementos que, por sua vez, irão desempenhar papel fundamental na gratificação sexual dos indivíduos praticantes.
Apesar de considerarmos as práticas BDSM comportamentos contemporâneos, os relatos dessas práticas são históricos, a exemplo dos textos da mitologia suméria. No mito de Inanna e Ebih, a Deusa Inanna era uma figura feminina poderosa e sexualmente dominante que forçava homens e deuses à submissão. Provavelmente, o primeiro relato a tratar do sadomasoquismo seguro e consensual foi o Kama Sutra: há milhares de anos, a obra já descrevia quatro formas diferentes de bater no ato sexual, regiões do corpo humano que podem ser atingidas e diferentes tipos de expressões de dor de uma pessoa submissa.
Vale reforçar que, para que uma fantasia sexual se configure como saudável, é inegociável que não se produza sofrimento e/ou prejuízo para quem a pratica. Há certa tendência em considerar que fantasias sexuais devem ser convencionais, caso contrário, denotariam algo incomum e patológico. Muitas pessoas com fantasias sexuais convencionais podem enxergar como estranheza aquelas que praticam o BDSM, todavia, estas podem compor relacionamentos saudáveis e ser sexualmente satisfeitas.
Não devemos reprimir ou rotular as maneiras pelas quais as pessoas vivenciam sua sexualidade. A ideia central dos praticantes do BDSM é que todas as pessoas devem ter a liberdade de buscar prazer na dominação ou na dor, desde que a experiência seja consensual e que haja respeito mútuo.