Este texto foi elaborado por membros da Associação Brasileira de Estudos em Medicina Sexual (ABEMSS) a pedido do Comitê Social da mesma associação como parte de um esforço conjunto de nós, profissionais da saúde sexual, para divulgar ao público informações corretas e em linguagem acessível a todos. Fiquem à vontade para explorar nosso site e acessar nosso canal no YouTube, neles vocês encontrarão a live com autores deste artigo bem como informações sobre diversos outros temas, igualmente desenvolvidos com atenção quanto a precisão do conteúdo.
Antes de mais nada, entendemos o quão atraente e interessante pode ser encontrar um “novo” tratamento! Novas tecnologias… novos recursos… Mas quando os dados concretos sobre o tratamento da Disfunção Erétil (DE) são o assunto, temos que dizer que muitos dos tratamentos oferecido como milagrosos nas mídias sociais não tem respaldo ético ou científico. Neste sentido, 3 tratamentos “antigos” já foram testados e são considerados seguros e efetivos! São eles: Inibidores de PDE5, Injeções Penianas e o Implante (ou prótese) Peniana. Neste texto, discutiremos mais a fundo o primeiro deles, os Inibidores da 5-fosfodiesterase, família grande de medicações com atuação semelhante e cujo membro mais conhecido é o Citrato de Sildenafila, o famoso Viagra.
Os inibidores de PDE5 são pílulas orais comercializadas pela primeira vez em 1998, após a Sildenafila ser descoberta acidentalmente e revolucionar o tratamento da DE. Enquanto a Pfizer estava pesquisando um novo medicamento para tratar a dor no peito em pacientes com problemas cardíacos na cidade de Sandwich (distrito de Dover, Kent, sudeste da Inglaterra) um relato consistente de ereções mais fortes foi observado. A pesquisa foi redirecionada, demonstrou que a droga promovia o relaxamento do músculo liso peniano (parte fundamental para uma boa ereção) e confirmou seu efeito positivo na função erétil dos pacientes. Foram diversos estudos em milhares de pacientes, todos de maneira geral demonstrando a mesma coisa – uma droga consistentemente eficaz em melhorar a ereção dos homens, com efeito muito melhor do que as que dispúnhamos até então. Além disso, ficou claro em muitos trabalhos que este efeito positivo não se justificava apenas pela melhora da confiança dos homens. Diversos estudos demonstraram resultados superiores quando comparada aos efeitos do uso de um placebo (pílula de farinha), como consequência do efeito biológico que exerce na circulação do pênis.
Atualmente, com sua eficácia e segurança (incluindo cardiovascular) documentadas por mais de 20 anos, o uso de medicações desta classe certamente deve ser considerado por pacientes e médicos como uma ótima estratégia de tratamento, se não a primeira. E sim, eles são seguros! A maior parte das preocupações do público, como risco de infarto, não corresponde às preocupações dos profissionais… Os efeitos colaterais podem ocorrer para todos os remédios desta família e incluem: rosto vermelho/quente, cefaleia (dor de cabeça), nariz entupido, gastrite, dentre outros menos comuns… Felizmente estes efeitos colaterais não ocorrem em todos os pacientes, não são perigosos (não denotam aumento de pressão arterial nem nenhum outro sinal de alarme), são geralmente de intensidade leve e transitórios, sendo um medicamento bem tolerado de maneira geral. As contraindicações existem e devem ser discutidas com o seu médico, mas são poucas. No geral, seus riscos e benefícios favorecem fortemente o benefício para seu uso médico na grande maioria dos casos.
Por fim, a Sildenafila foi apenas a primeira droga descoberta, mas hoje temos a disposição muitos outros compostos. Uma discussão abrangente sobre as preferências sexuais do casal, vantagens e desvantagens de cada agente, dose, modo de uso (diário ou sob demanda) e a forma de uso adequado (quanto tempo antes da relação sexual e interação alimentar) deve garantir uma boa adesão e melhores resultados.
Estes são os pontos centrais que gostaríamos de dividir com todos. Não, eles não são medicamentos novos. Mas brincamos que preferimos usar um tratamento “antigo” e eficaz, com décadas de estudos nos ajudando a entender seus prós e contras, do que se arriscar em novos tratamentos promissores muito mais caros e sem este corpo de estudos que os respaldem.
Dr. Bruno C G Nascimento
Urologista do Grupo de Medicina Sexual – Divisão de Urologia da Faculdade de Medicina da USP
Membro do Centro de Medicina Sexual do Hospital Sírio-Libanês
Diretoria Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual (ABEMSS) – Biênio 2020-2022
Fellowship Memorial Sloan Kettering Cancer Center, NY, USA
Prof. Sidney Glina
Prof Titular Urologia da Faculdade de Medicina do ABC.
Ex Presidente da Sociedade Brasileira de Urologia
Ex Presidente da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual
Ex Presidente da International Society for Sexual Medicine.
Ex Presidente e co-fundador ABEI
Prof. Fernando Nestor Facio
Professor Adjunto Fac. Medicina São José Rio Preto- FAMERP
Pós Doutorado em Medicina Sexual Johns Hopkins Hospital
Presidente da Sociedade Latino Americana de Medicina Sexual- SLAMS
Irwin Goldstein et al – The Serendipitous Story of Sildenafil: An Unexpected Oral Therapy for Erectile Dysfunction. Sexual Medicine Reviews,Volume 7, Issue 1,2019 https://doi.org/10.1016/j.sxmr.2018.06.005.
Faysal A. Yafi et al – Update on the Safety of Phosphodiesterase Type 5 Inhibitors for the Treatment of Erectile Dysfunction, Sexual Medicine Reviews, Volume 6, Issue 2,2018 https://doi.org/10.1016/j.sxmr.2017.08.001.