🌈 Identidade de gênero é o entendimento pessoal sobre a experiência do indivíduo dentro da sociedade e sua identificação como homem, mulher ou algo entre (ou fora) desta definição binária. A identidade de gênero é uma atribuição auto identitária, ou seja, somente o indivíduo pode atribuir a ele uma identidade de gênero específica. Esta compreensão deve ser autodeclarada (autodeterminada) a partir de sua vivência íntima de gênero no contexto social.
🌈 A identidade de gênero pode ser congruente, ou não, com o sexo designado ao nascimento. Diz-se que o indivíduo é cisgênero quando gênero e sexo são concordantes, ou seja, gênero masculino para os indivíduos designados do sexo masculino e gênero feminino para as pessoas designadas do sexo feminino ao nascimento. Quando o indivíduo não se identifica com o gênero correspondente ao sexo designado ao nascimento, descreve-se como pessoa transgênero ou pessoa com incongruência de gênero.
🌈 Transgênero é um termo guarda-chuva que descreve indivíduos que possuem identidades de gênero diferente do sexo designado ao nascimento ou vivencia sua identidade de gênero fora dos limites binários de homem-mulher (KOZEE et al, 2012). Transgeneridade engloba as identidades binárias (homem transgênero – indivíduo ao qual foi atribuído sexo feminino no nascimento, mas identifica-se com o gênero masculino; e mulher transgênero – pessoa que foi designada como do sexo masculino ao nascimento, mas deseja viver e ser aceita como do gênero feminino) e identidades não binárias (gender queer, agender, gender fluid, etc).
🌈 Estima-se que a prevalência de mulheres transgênero na população seja entre 0,5% e 1,3%. No Brasil, estudo realizado com 5930 pessoas identificou uma porcentagem de 0.69% de pessoas transgênero (0.33% dentre as pessoas registradas como homem e 0.33%, como mulher) e 1.19% de pessoas que se identificam com gêneros não binários (0.55% dos registrados como homem e 0.64%, como mulher).
🌈 Segundo a Associação Americana de Psiquiatria no 5º Manual de Diagnóstico em Saúde Mental (DSM V), o termo Transexual indica um indivíduo que busca ou que passa por uma transição social de masculino para feminino ou de feminino para masculino, o que, em muitos casos (mas não em todos) , envolve também uma transição somática por tratamento hormonal e cirurgia genital (cirurgia de redesignação sexual) (APA, 2014).
🌈 Muito se questiona sobre a diferença entre mulher transexual, mulher transgênero e travesti. Os três termos falam sobre pessoas que foram designadas como do gênero masculino e se identificam com a figura feminina.
🌈 A diferença entre os termos é, principalmente, política, social e ideológica. Travesti é uma identidade própria dos países da América Latina, Espanha e Portugal. O termo travesti passou por diversos significados ao longo dos anos. Na década de 1960, designava “homens que se travestiam” ou “bichas afeminadas”. Nos anos 1980, a travesti começa a tornar-se uma identidade própria e nos anos 2000 passa a se diferenciar da mulher transexual por questões sociopolíticas. Essa identidade nasce com as mulheres trans que lutavam pelos seus direitos e enfrentavam grupos religiosos e policiais.
🌈 Esse grupo acabou sendo estigmatizado como violento e perigoso. Por estarem à margem da sociedade, parte das travestis recorriam à prostituição como forme de sobrevivência. Esses fatores acabaram por criar um preconceito mesmo dentro da própria comunidade LGBTQIA+. Atualmente, muitas personalidades travestis fazem propaganda para romper com esses preconceitos.
Texto por: Dr. Marcelo Praxedes
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