Na complexidade das relações humanas, uma questão fundamental emerge: como definimos e experimentamos nossos relacionamentos? Este é um território vasto e multifacetado, onde a compreensão se expande além das fronteiras da monogamia tradicional. Hoje, convidamos você a explorar esses cenários com a Dra. Flavia Glina, uma eminente membro associada à ABEMSS (Associação Brasileira para Estudos em Medicina e Saúde Sexual).
A monogamia é uma forma de relacionamento na qual um indivíduo se compromete com um único parceiro, seja ele de natureza sexual ou romântica. No entanto, a possibilidade das relações humanas é vasta e diversificada, incluindo também as chamadas não monogamias consensuais, onde todos os envolvidos concordam explicitamente em manter diversos relacionamentos românticos e/ou sexuais simultaneamente. Este termo abrange diversas abordagens, tais como o poliamor, a poligamia, os relacionamentos abertos e o swing.
O poliamor se destaca como uma orientação relacional que desafia a ideia tradicional de exclusividade. Essa visão sustenta a crença de que é possível e aceitável amar várias pessoas e cultivar múltiplos relacionamentos íntimos e sexuais. A gama de relacionamentos poliamorosos abrange desde aqueles com foco intenso no aspecto sexual até relações predominantemente baseadas em conexões emocionais. Essas conexões podem ser categorizadas hierarquicamente, usando termos como “primário”, “secundário” e “terciário”, para designar o nível de envolvimento, poder e prioridade em cada relação.
Embora muitos poliamoristas mantenham dois parceiros simultaneamente, com distinções entre parcerias primárias e secundárias, não se pode generalizar essa dinâmica para todos. Parceiros primários frequentemente compartilham interdependência profunda, dividindo vida doméstica, finanças e até responsabilidades parentais. Em contrapartida, parceiros secundários podem residir separadamente e receber menos tempo e prioridade na vida do indivíduo. Porém, vale ressaltar que nem todos os poliamoristas se identificam com essas classificações hierárquicas.
Os relacionamentos abertos, por sua vez, acontecem quando parceiros concordam em explorar outras conexões sem interações diretas entre as partes adicionais. Embora haja espaço para envolvimentos sexuais externos, essas relações costumam ter limites claramente estabelecidos.
A poligamia, por sua vez, abrange uniões conjugais envolvendo três ou mais indivíduos. Alguns termos utilizados são a poliginia (um homem com múltiplas esposas) ou a poliandria (uma mulher com múltiplos maridos), no caso de indivíduos de orientação heterossexual.
O swing, por sua vez, é caracterizado por casais que participam de encontros sexuais com outros casais, sem a busca de laços emocionais duradouros.
Além disso, termos como “polifidelidade” descrevem relações envolvendo mais de duas pessoas, mas que não permitem parceiros adicionais sem aprovação mútua. E “compersão” é a capacidade de transformar o ciúme em prazer ao compartilhar a proximidade com outras pessoas, fortalecendo a conexão entre os parceiros.
As estatísticas revelam que a não monogamia consensual é uma realidade relativamente comum na sociedade atual. Por exemplo, mais de 21% dos solteiros nos EUA já experimentaram relacionamentos sexualmente não exclusivos. Além disso, estudos apontam uma prevalência de 0,6% a 5% de práticas poliamorosas nos EUA, com até 23% da população vivenciando essa abordagem em algum ponto da vida.
A diversidade nas formas de relacionamento desafia as convenções tradicionais, espelhando a complexidade das emoções e conexões humanas. E, contrariamente às expectativas, pesquisas indicam que casais envolvidos em práticas poliamorosas frequentemente exibem níveis normais de satisfação e autoestima. Isso demonstra que a escolha de um estilo de relacionamento menos convencional não necessariamente implica problemas, ressaltando a importância do respeito e da compreensão mútua.
Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Especialista em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina da USP e membro da ISSM (International Society for Sexual Medicine).
Atua na área de psicologia clínica com foco em sexologia e terapia sexual para adultos e casais. Também oferece atendimentos de psicoterapia individual e terapia de família, na abordagem psicanalítica.
Atualmente, atendimentos apenas ONLINE.
Aulas e cursos ministrados na área de Terapia Sexual e Sexualidade. Conta também com apresentação de trabalhos e aulas ministradas nos últimos congressos da WAS (World Association for Sexual Health) e SLAMS (Sociedade Latino Americana de Medicina Sexual).
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Imagens: Freepik
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